Mudança de narrativa: como?
A combinação de palavras que a gente mais escuta e um plano para você começar já. E mais: o que funciona na agenda ESG no Tik Tok
O tema da news deste mês era outro. Mas aí chegou a minha vez como mentora do LABFALA - a incubadora-laboratório da FALA, com mentorias e recursos financeiros para nano e micro organizações de comunicação. Meu assunto? Planejamento estratégico, campanha de impacto e projetos. Em outras palavras: mudança de narrativa. Então cá estamos!
Em meados de 2016 eu já tinha uma década de redações e apurava uma reportagem especial sobre estupro para a ÉPOCA (que depois foi premiada), a finada revista semanal do Grupo Globo. A investigação me levou até o artigo A verdade do estupro nos serviços de aborto legal no Brasil, escrito pela antropólaga Débora Diniz e colegas. Nunca me esqueci.
Os pesquisadores entrevistaram profissionais de saúde de centros de referência em aborto legal. Quais narrativas existiam naquele espaço que, em tese, seriam seguros para uma vítima? Diz um trecho do artigo:
“A mulher precisa chegar com uma história convincente, que caiba dentro do preconceito das pessoas (que a atendem)”.
Em outras palavras, para ser considerada vítima, a história precisa primeiro caber no preconceito de quem a atende. Percebe como mudança de narrativa é cpmplexo? Porque se não chegar na ponta, se o ciclo todo não for impactado, a mudança não vai acontecer.
Na FALA, chamo esse caminho de ecossistema de impacto, um mapa com ações estratégicas de comunicação capazes de abranger todo o ciclo do assunto para que aquela mudança aconteça de forma sólida e duradoura.
Caso real: em meados de fevereiro de 2022 fiz a primeira reunião com o Rafael, hoje nosso coordenador de projetos. Um café virtual - senha mágica que nós, jornalistas, usamos para falar de trabalho. Contei que, há alguns meses, estava desenhando um programa audiovisual de humor para combater desinformação sobre meio ambiente, clima e discurso de ódio. Tínhamos feito investigações, oficina, podcast. Mas o campo pedia mais. Porque a desinformação é usada como ferramenta para enfraquecer políticas públicas voltadas a minorias, restringir e negar o direito ao território e à identidade de povos originários e comunidades tradicionais, apoiar projetos exploratórios em detrimento dos biodiversos envolvendo as comunidades, questionar a ciência... A agenda é transversal.
Um ano depois, conseguimos o sim para viabilizar o projeto que mudaria o jogo.
A primeira temporada do programa audiovisual do Mentira Tem Preço (tema da newsletter #3) com o humorista Victor Camejo estreou em março deste ano com 80 mil views - orgânicos - no Youtube e no Instagram. Em cinco meses alcançamos quase 1,5 milhão de views, cerca de 70% de taxa de retenção e 99,2% de aceitação.
As interações - sim, é preciso acompanhá-las de perto - mostram outras camadas desse impacto, da mudança de consciência e sensibilização para um assunto tão complexo e urgente. Já conhece o MTP?
Pensar a mudança de narrativa é, antes de tudo, pensar em ciclos estratégicos, capazes de serem mensuráveis, e ter consciência que cada indivíduo entende a realidade de uma forma distinta da sua.
Tem muitas maneiras de desenhar esse planejamento estratégico - que deve ser sempre revisitado. Gosto de começar com perguntas:
Invariavelmente, a jornada traz mais respostas e, com elas, você vai criar novas ações rumo à grande mudança.
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Estou no thais@fala.art.br
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🪩O que o seu concorrente está fazendo certo no Tik Tok
Toda organização, seja uma agência de jornalismo ou uma organização não governamental, precisa trabalhar seus assuntos e marca com conteúdos estratégicos para um público prioritário, de forma intencional (que vai estar bem descrita no planejamento de campanha) e meta específica em uma determinada plataforma. É que está fazendo a NRDC. Conhece?
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A organização, com foco em mudanças climáticas e pouco mais de 50 mil seguidores no TikTok, obteve um índice de engajamento em seis vídeos seis vezes superior à média das Ongs. Este é o resultado do mapeamento feito pela Rivaliq, empresa de análise de dados de redes sociais. O mapeamento somou as 100 Melhores Instituições de Caridade da Forbes mais entidades selecionadas pelo time da empresa.
A NRDC alcançou o pódio com vídeos curtos (e músicas que bombam) capazes de entregar o dia a dia (complexo, cansativo e recheado de notícias ruins) de forma informativa, simples e objetiva. O mix da grade inclui conteúdos educacionais sobre espécies ameaçadas de extinção, produção com entretenimento e timing: tanto para assuntos quentes - que todos nós temos acesso- quanto para vídeos que bombam e abrem caminho para campanhas institucionais.
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A análise incluiu ainda outras plataformas. O ranking mostra como a Bat Conservation International, que trabalha pela preservação de morcegos (sim, morcegos), chegou ao top 1 geral. O convite da BAT não encontra oposição em lugar algum: THE FUTURE NEEDS ALL OF US (O futuro precisa de todos nós, em tradução livre). Você se opõe? Vale ver também a Anistia Internacional, que foi primeiro lugar geral no Tik Tok. Aqui, o relatório completo para inspirar você.
Uma pergunta:
Conhece uma nano ou micro organização que trabalhe com comunicação e/ou audiovisual com foco em direitos humanos, meio ambiente ou democracia?
Então encaminhe essa newsletter para as equipes já!!!
Como contei na news de julho, a FALA lançou uma incubadora-laboratório para acolher e mentorar, com recursos humanos e financeiros, instituições com esse perfil. Queremos ajudar a descentralizar narrativas, financiamentos e possibilidades. Desenvolvemos uma metodologia de troca de conhecimento em seis etapas, e estamos buscando organizações interessadas em participar da edição de 2024. Aqui, conto um pouquinho na reportagem publicada pelo Portal dos Jornalistas.
Olha quem está falando…
O consumo de informação mudou. Três insights para encarar os desafios que já estão aí.
⚡⚡⚡ Sempre tem mais…
Para ver agora
1. 🫦 Diversidade na boca do brasileiro: 7 em cada 10 dizem que empresas devem apoiar diversidade
🏬 Diversidade no mercado: "De cada 100 empresas com ações negociadas em bolsa no Brasil, 55 não têm mulheres em cargos de diretoria estatutária, e 36 não têm participação feminina entre os conselheiros de administração". Da B3.
2. Tchau Twitter e a ótima sacada da equipe do WWF
Para ver com calma
1. Bad Blood
"Empreendedor é um sinônimo para vendedor, e vendedor é o termo comum para contador de histórias… Isso não é a mesma coisa que mentir", escreveu Scott Galloway sobre a jovem visionária Elizabeth Holmes, a mulher que criou um unicórnio no Vale do Silício de 9bi mentindo que poderia realizar testes rápidos com apenas uma gota de sangue. Por acaso ou não, terminei de ler o livro há poucas semanas - Bad Blood: fraude bilionária no Vale do Silício (Ed. Alta Books), quando Holmes voltou ao noticiário: foi sentenciada a 20 anos de prisão. O que me pegou no livro, para além da investigação minuciosa de John Carreyrou, é o poder do pitch de Holmes. Vale.
Vamos falar sobre pitch por aqui em breve
2. Pureza, filme de Renato Barbieri. É a história real de uma mãe incansável, interpretada por Dira Paes, que vai para o mundo em busca do filho desaparecido. Na jornada, conhece a face mais dura do trabalho escravo no Brasil. Aliciamento, cárcere e medo. Pela atuação em Pureza, Dira foi laureada com o prêmio Grande Otelo de Melhor Atriz no 22º Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Disponível na Globoplay.
Utilidade Pública
👉Google alerts
O que a Internet está falando sobre aquele assunto? Uma das maneiras de fazer essa escuta social chegar direto no seu e-mail é criar alertas diários ou semanais com palavras chave dos assuntos que interessam para os seus projetos e organização. Aqui.
Muitíssimo obrigada por chegar até aqui. Bora compartilhar :) ?
👩🏻🦰 Essa newsletter é escrita por Thais Lazzeri, mulher, mãe, jornalista premiada, fundadora da FALA, diretora de criação e impacto, consultora e diretora e roteirista no cinema.
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