FALA #3 Que mundo você quer ver em 2023?
A história que pode fazer seu projeto ou instituição provocar impacto este ano
Construir narrativas significa escolher jornadas. Eu escolhi estar cercada de histórias muito difíceis - apagadas e invisibilizadas- há quase duas décadas por acreditar na força do storytelling para tirar cada história relacionada a direitos humanos e meio ambiente do apagamento e da invisibilidade. Como? Criando ‘pontes de empatia’ para ampliar o impacto.
Vou compartilhar uma história nossa para mostrar como qualquer projeto pode ir além com uma boa história, planejamento e estratégia. A FALA nasceu na pandemia (!!!). À época, você deve lembrar da enxurrada de desinformação sobre vacinas e ataques ao STF. Se as fake news tinham fôlego para colocar em risco a nossa democracia e campanhas de vacinação em uma pandemia, o que uma fake news sobre meio ambiente e justiça social poderia provocar?
MENTIRA TEM PREÇO
O projeto Mentira Tem Preço (já segue o MTP no Instagram?), que completa três anos em breve, nasceu para responder essa pergunta. Monitoramos desinformação socioambiental nas plataformas digitais. Hoje, sabemos que tiramos da invisibilidade e do apagamento uma indústria de desinformação que trabalha estrategicamente contra o meio ambiente e as populações originárias e tradicionais. Mas como contar sobre a gravidade de um assunto tão específico e mobilizar mudanças?
Vou recorrer ao relógio do coelho de Alice no País das Maravilhas para chegarmos em janeiro deste ano, quando entrou no ar esta campanha que criamos coletivamente na FALA com uma superequipe:
A assinatura sensacional da campanha foi criada pelo nosso coordenador de projetos, o Rafa
Descrição da imagem I No centro da imagem, a frase: mentira mata, mentira desmata, mentira tem preço.
Mentira tem um preço alto - daí veio o input do nome
Impacta negativamente a nossa democracia, a formulação de políticas públicas (ou o apoio a uma delas), o trabalho de organizações e jornalistas, dentre tantos outros.
Muda a nossa percepção de realidade usando estratégias simples, como misturar informação com desinformação. Assim, escutei outro dia de um colega que a Amazônia pode acabar e vai se regenerar sozinha. MENTIRA. Mas você pode ter escutado um dos mais influentes podcasters de economia e finanças sugerindo que os dados de desmatamento na Amazônia, capturados por satélite, estavam errados. MENTIRA.
Na floresta ou em outro bioma a mentira provoca divisão na comunidade, enfraquecimento de lideranças (como as que usam o corpo como arma para barrar o garimpo ilegal) e morte.
Uma das últimas que monitoramos - e que colaborou para essa newsletter chegar para você no último dia de janeiro - foi a crise humanitária no território Yanomami. O caso ganhou destaque depois da denúncia publicada na Sumaúma. Enquanto parte dos brasileiros descobriu que crianças de 1 ano tinham o peso de um bebê de três meses e que mais de 500 morreram nos últimos quatro anos por doenças tratáveis, a máquina de desinformação operava para desumanizar os indígenas e negar identidade.
Como as pessoas podem odiar o outro tanto? O que podemos fazer? Compartilho com vocês o TED da Loretta Ross, professora e ativista de direitos humanos. Eu acredito no que ela diz: não podemos mais construir abismos.
EM REDE
Por isso precisamos contar as histórias que precisam ser contadas de muitas maneiras para que alcancem nichos específicos. No MTP, resultado da parceria da FALA e do InfoAmazonia (lá você encontra todas as reportagens), já criamos e desenvolvemos:
Podcast produzido em parceria com a Rede Wayuri, composta por comunicadores populares indígenas de São Gabriel da Cachoeira;
Oficina para jornalistas e lideranças amazonenses em parceria com a Abaré;
Produção de propostas para combater as fake news em parceria com outros atores da sociedade civil;
Campanha de combate à desinformação;
Parcerias de republicação de conteúdo no território;
E vem mais por aí: o MPT vai ter programa audiovisual. Conto mais na próxima newsletter!
NA PRÁTICA
Fiz questão de repetir a palavra parceria inúmeras vezes não porque faz parte do DNA da FALA, mas porque é fundamental para o sucesso do seu projeto construir em rede com quem já trabalha no território.
Imagine, primeiro, quais pontes você precisa construir e quem pode indicar o caminho;
Faça a lição de casa e pesquise o quanto puder antes de fazer o primeiro contato. Poupa seu tempo e do parceiro, além de demonstrar interesse prévio;
Talvez não seja na primeira conversa que o parceiro ideal surja, mas ali você começa a desenhar a rede de apoio do seu projeto e da sua campanha;
Pergunte, nessas conversas, como essa parceria poderia acontecer. Seu conteúdo pode se encaixar em uma demanda do parceiro, vocês podem pensar em um novo produto (que vai exigir orçamento)...
Sou da turma que adora feedback (sugestões, apontamentos, críticas construtivas e respeitosas…). Use os comentários ou apenas clique no ❤️⚡⚡⚡ Sempre tem mais
Para ver agora: Virou piada, enfim
A publicidade de combustíveis fósseis (vilões do aquecimento global) virou piada no The Daily Show, que zombou de um anúncio de petróleo e de gás.
Para ver com calma
Documentário I Writing with fire
Nominado ao Oscar no ano passado, o filme de Rintu Thomas e Sushmit Ghosh revela a história inspiradora de um grupo de mulheres que resistiram às tradições machistas - e à pressão masculina - e há vinte anos mantém um jornal independente na Índia. Agora, elas precisam migrar para o digital para sobreviverem. Disponível em plataformas de streaming por cerca de R$7.
🎊 Um viva: o renascimento do Ministério da Cultura
"Um país sem cultura é um país sem educação"
Fernanda Montenegro, em entrevista ao GZH
Descrição da imagem I Rio, ao centro, cercado por floresta e estrutura rochosa no Cerrado em um dia ensolarado. Ao fundo à esquerda, duas crianças na sombra. Céu azul de outono.
É com essa energia (do Cerrado) que entrei em 2023.
Vem série audiovisual por aí!
Utilidade pública
Quadro novinho por aqui. O nome entrega a que veio: vamos compartilhar dicas. Se quiser compartilhar comigo e ver sua sugestão por aqui, é só me escrever: contato@fala.art.br
👉 Utilidade pública 1: site que faz buscas em vários cantinhos da internet (ao mesmo tempo). Via Tiago, autor da newsletter Tira do Papel. Dica da Akiko, nosso gerente de estratégia.
👉 Utilidade pública 2: seleção de documentários e filmes feita pelo Sesc com streaming gratuito. Via Caroline Bauer, professora da UFRGS.